quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Pico do Tabuleiro - O Dragão da Serra do Tabuleiro

O Pico do Tabuleiro é o ponto mais alto da serra do Tabuleiro, com seus 1288 mts de altitude é uma montanha exigente, pois começa praticamente a  nível do mar , ou seja , são mais de 1.000 mts de aclive numa trilha extensa, de 25 km ,  se comparadas a outras consideradas hard trekking como o Ciririca e o PP da Serra do Ibitiraquire ambas com 16 km de extensão. A diferença é que a trilha, embora extensa e muito íngreme , não oferece tantos obstáculos, praticamente nenhum , é trilha marcada e bem aberta sem chance de se perder ou se desorientar , a dificuldade é na extensão e subidas longas, puxadas que exigem um cárdio em dia e músculos de panturrilha prontos pra serem exigidos ao máximo, ainda mais se for de cargueira.

A trilha começa no Café do Tabuleiro, logo após a entrada de Caldas da Imperatriz em Santo Amaro ( Grande Florianópolis )  onde geralmente , está a postos, um integrante extra ,  companheiro fiel da subida extenuante. Sempre  lá a postos pra acompanhar a equipe do dia disposta e enfrentar trilha e acampamento no cume desta montanha que me lembra um  dragão sonolento e preguiçoso pelas suas 3 corcóvas que temos que vencer antes de chegarmos na cabeça ou topo da montanha. Mas voltando ao integrante extra de caminhada se trata de um cão lindíssimo, porte musculoso provavelmente mestiço de labrador com vira lata mas muito bem cuidado pelo dono e adotado carinhosamente por todos montanhistas que se aventuram nessa trilha. Seu nome : " Perigo ", decidido,  ele toma frente da trilha e guia orgulhoso a trupe do dia...

E assim começamos a trilha às 9 da manhã, integrantes : Terezinha Tessaro, Chico Tessaro, Jaçanã , Diego Weber, Elder Di Moura e Diana "Kaiowá" (eu mesma ou como andam me chamando kkkkk), amigos de outras montanhas, alguns  por  montanhistas experientes , outros trekkeiros ou  mateiros, resumindo ,  farinha do mesmo saco  : aventureiros por natureza que trocam sem nem piscar os olhos  o conforto do lar pela proposta de uma aventura na Serra e seus imprevistos... tá no sangue!

"Perigo" ia ora na frente, ora  se enroscando no meio de nós alegremente , nossa sorte foi que o sábado não estava tão quente como anunciado , a previsão é que  teríamos um fim de semana calorento em pleno inverno  2014...

A primeira parte da subida que parte do Café do tabuleiro até a casinha/abrigo (que é propriamente o início da trilha ) é a que castiga mais, uma subida interminável e inclemente onde a certa altura está a única bica de água da trilha toda. Ao chegar na casinha a vontade do corpo é de desistir , deitar ali mesmo e pensar numa aposentadoria próxima de trilhas rsrsrsrsrs  mas que nada..após esse trecho esquecemos logo desses maus pensamentos entrando numa matinha gostosa de andar, com sombra e subida mais leve, após os próximos 30 min começa uma sequência de subidas exigentes onde é necessário fazer várias paradas para retomar fôlego e tomar água, na verdade são 3 morros ou corcovas que os mais inocentes ficam perguntando e apontando - " é ali o Pico do tabuleiro?" - rsrsrsrs claro que não , se trata apenas de morros a vencer antes de avistar o imponente paredão do Gigante e isso só vai acontecer após umas 2 ou 3 horas de caminhada, subindo e descendo morrebas até essa primeira visão já na cota dos 800 mts + ou - ... É mais ou menos num desses cumezinhos que é aconselhável parar, se hidratar , comer frutas e até algo mais substancial como carboidratos e proteínas que foi o que fizemos! Tinha sanduíche, amêndoas, frutas secas , lanches variados que devoramos famintos pensando no que ainda faltava. O ritmo de todos era exatamente o mesmo, poucas diferenças e o "Perigo" já parecia bastante cansado de língua de fora, demos água ao cão e ele após descansar o corpanzil numa sombra colocou-se de pé ao ver que todos já ajeitávamos as cargueiras para continuar a subida.

Dali pra frente fixávamos o olhar no gigante à nossa frente, com trechos de mata cada vez mais fechada e capins cortantes como uma navalha que faziam estrago aos teimosos em ir de camiseta sem manga, um descuido e a sensação é de ser decapitado pelas folhas cortantes que cada vez enroscam mais. Pode-se levar  mais 2 horas (se estiver de cargueira)  de subidas e descidas pela crista de ligação, após essa primeira visão do Tabuleiro. Como era muito cedo e o ritmo era bom, gastamos nosso tempo de sobra conversando na mata, fazendo grandes paradas pra não chegar com sol a pino no cume.

Administramos bem esse tempo e quando eram cerca de 17 h avistamos da última clareira a cabeça do dragão a ser vencida, mais 30 minutos e todos emergimos no topo, a visão de um mar de nuvens que começava a se formar nos empolgou e após os característicos "uhuuuulll" de chegada ao topo de montanhas e algumas fotos da Serra imensa e cidade que ainda se podia avistar dessa altura , seguimos pro local de acamps um pouco mais a frente e acima desse primeiro local de cume.

Às 17:30 todas as barracas montadas, menos a do Diego ainda virgem de acampamento nas alturas, de barraca recém comprada, deixou pra montar depois do pôr do sol espetacular que já era anunciado pelas cores avermelhadas e mar de nuvens cada vez mais espesso.

A Terezinha Tessaro como sempre a primeira a montar barraca e já pronta pra o espetáculo com sua máquina a postos pra registrar o que estava por vir....o casal montanhista Jaçanã e Chico Tessaro também montaram muito rápido a barraca e já foram procurar o melhor lugar pra assistir o fim de tarde.

O  Elder di Moura piloto em formação acostumado a estar nas alturas sentiu uma emoção diferente ao se ver acima delas mas com os pés no chão, diferente das vezes em que teve essa visão de um avião...seu olhar parecia devorar cada visão em todas as direções até que ele mesmo disse : " Dá uma certa  ansiedade de não conseguir registrar cada visão e ângulo de tantas paisagens impressionantes "...e assim nos dirigimos até  onde os outros estavam,  uma encosta com pedras grandes onde cada um se posicionou...o mar de núvens estava cada vez mais espesso e compacto até que ficou clássico, pronto pra receber em seu leito o astro rei que rapidamente descia por entre as núvens em tons vermelho incandecente até começar a sumir no leito das núvens ......espetacular! Já vi muitos mares de núvens em manhãs nos cumes, mas em pôr do sol numa serra imensa, e um mar de nuvens clássico assim foi a primeira vez....

Após o pôr do sol a temperatura começou a cair drasticamente até que estabilizou em cerca de 9, 8 graus C, ficando a noite de um frio agradável, exceto em locais com vento onde a sensação térmica era bem abaixo dos 8 graus, noite extremamente estrelada naquele cume gigantesco em forma de tabuleiro!

Enquanto o Diego lutava bravamente para montar sua barraca nova, a Terezinha providenciava o jantar comunitário e o Chico partilhava com todos da sua garrafa de vinho e salame...não poderia ser melhor, muita conversa, risada e cheiro do spaguetti da montanha complementava o prazer daquele momento que todo montanhista enfrenta qualquer perrengue pra chegar nele... Ainda rolou um café quentinho e todos foram se recolhendo pra barraca descansar o corpo pro dia seguinte.

No meio da noite, senti vontade de fazer xixi e justamente ao abrir o zíper da barraca veio na minha direção  alguns flashes rápidos que eu não entendi como que aconteceram, justamente na hora que eu abri era como se já estivesse apontando pra mim.. meio resabiada pensei : "será que é hoje que vou dar de cara com um ser alienígena?" kkkkkkk no dia seguinte fiquei sabendo que era o Diego lutando para desligar a headlamp dele que estava incircuitada !

Depois disso , ainda à noite começamos a conversar sobre constelações, nebulosas e estrelas mortas a milhares de anos, fomos andar no cume e quem nos aparece .... o Perigo, naquele frio todo percorria o cume como se fosse um sentinela.

O amanhecer não foi com mar de nuvens, mas igualmente sensacional, tiramos muitas fotos onde o Perigo era o protagonista , percorremos bastante o cume e por fim, a meia-manhã começamos a desmontar tudo e guardar as coisas após um  farto café da manhã...

Iniciamos a descida às 11 hs e às 13:15 estávamos todos na bica , ou seja, a descida é absurdamente rápida em relação a subida , duas ou três vezes mais rápida, ficando comprovado que a única dificuldade da trilha são as íngremes e extensas subidas , ficando a descida (pra quem tem joelhos em dia) extremamente rápida.

A seguir fotos de uma das mais lindas montanhas que subi, tendo um dos  cumes mais extensos  e de visão mais incrível , de lá avistei uma sequência de cristas e montanhas a serem desbravadas e demarcadas trilhas, fiquei com vontade de convidar o Evaldo a demarcar algumas trilhas que deem acesso a outras montanhas visando facilitar a incursão de montanhistas por essas regiões, já existe uma travessia nessa Serra que termina exatamente no Pico do Tabuleiro, não sei bem o ponto de partida e jé tentei entrar em contato com um pessoal que fez, mas uma travessia  Cambirela-Tabuleiro...fica o sonho e a proposta para amadurecer....














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