quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Torre da Prata



Quem sugeriu esta trilha foi o Jurandir Constantino, vulgo Jura ou Juramidam como gosto de chamar este ícone do montanhismo e que se tornou um amigão , parceirão e guia  de trilhas épicas duas as quais tive a honra e sorte de participar, a ultima delas a 7C no Ibitiraquire.
No decorrer de 15 dias foram-se juntando outros guerreiros e guerreiras também interessados nesse desafio que, segundo informações que fui colhendo era meio “perrengoso”.... Sempre que tenho curiosidade de saber de uma trilha ou montanha recorro ao site do AltaMontanha e me divirto ao ler relatos e causos da montanha da vez. Li um do Jorge Soto , e já fui sentindo que a caminhada ia ser árdua...
Eu  , como sempre temos que fazer uma série de acertos no trabalho, nossa agência no aeroporto, na família deixando as crianças em segurança e tranquilas toda vez que vamos pra serra paranaense, e isso demanda peripécias na logística e bastante sacrifício como sair no sábado às 4 da manhã de Floripa pra  enfrentar 4 horas de estrada após ficar até a meia noite de sexta feira arrumando as cargueiras....
Já na estrada a caminho do Paraná fui curtindo animadamente curtindo  leitura da épica Alpha Crucis , um doc que  o Elcio nos passou gentilmente pra lermos antes da publicação oficial.
Perto das 8 hs avisamos via telefone ao pessoal (que já estava no inicio da trilha) que nos aproximávamos de Guaratuba e ainda tínhamos a balsa para atravessar. Acertadamente eles decidiram iniciar a trilha cedo pois o Elcio Douglas, Miguel e Debora fariam de bate e volta e era prudente começar logo.  Juntamente com eles iniciaram às 8:30 o Frederico , Juliana Hoy e Cintia Eliane , ficando o Jurandir a nos esperar perto da BR 277.
Perdemos muito tempo na balsa, cerca de 1 hora, e somente as 10:20  pegamos o Jura pra depois pegarmos uma estradinha que atravessa vários riachos  indo em direção ao Sitio , onde um senhor nos cedeu lugar para estacionar em troca de uma colaboração espontânea. Ajeita daqui e ajeita dali,  nos despedimos do sinhozinho do sítio que já avisa que longe ele vê uma núvem e que no dia anterior estava mais limpo...assim às 11 horas iniciamos atravessando o riacho  saltitando em pedras , tarefa simples e à toa pra todo mundo mas que pra mim é um inferno pelo pouco ou nenhum equilíbrio que tenho , mas embora reclamando e meio desequilibrada sempre atravesso esses rios com alguma ajuda  e muita paciência lógico. A trilha inicia tranquila e pra minha surpresa adentra um bosque lindo, aberto com  suaves subidas ,  na verdade é uma curtição esse início, ainda mais com  a prosa agradável em que íamos .... após uma hora de caminhada chegamos no primeiro ponto de água, um agradável riacho de água deliciosa onde paramos pra primeira fotinha. 

Encontramos alguns caçadores que também param pra se refrescar e  tomar água , e após uns  10 minutos trocando informações sobre a trilha mais adiante, seguimos pois tem muita coisa pela frente. A trilha continua bonita e bem aberta , conversando e tentando seguir o Jura que pacientemente nos espera cada vez que se distancia chegamos a um deslizamento á direita, enorme  e assustador  imaginar tanta terra descendo assim. A partir dali a subida vai apertando e ficando mais inclinada, passamos pelo tal rancho dos macacos que na verdade é um tronco caído e uma pequena clareira onde encontramos a jararaca morta sobre a qual os caçadores nos avisaram que estaria por ali... antes dessa tínhamos encontrado uma outra jararaca, essa bem viva mas pequena ainda , que apenas deixamos passar pela trilha...susse!
Subida ficando ma  e nem penso em reclamar por saber que ainda estamos longe, talvez nem na metade...derrepente o Jura escuta algumas vozes , eu paro de respirar inclusive pra tentar ouvir mas nada, essas vozes são perceptíveis apenas pro Jurandir...uns 20 minutos adiante aparecem os donos das vozes : Elcio Douglas, Miguel e Debora os quais já estavam voltando pois tinham ido de ataque mais cedo... a alegria foi geral né, paramos todos , cada um arruma um canto pra sentar e após algumas informações de como está o cume o Elcio começa a contar os causos dele do trem da morte na Bolivia o que arranca gargalhadas gerais, pois além de um puta montanhista o Elcio é uma baita tirador de sarro dos próprios perrengues e sabe como ninguém contar essas situações hilárias fazendo a todos esquecer que tínhamos que prosseguir, quase uma hora depois de muita festa e algumas fotos no meio do mato, cada turma seguiu seu rumo, nós pra cima e eles morro abaixo onde iam tomar sorvete em Morretes... pela lama que eles traziam nas botas vi que a trilha não seria tão seca assim lá pra cima...


Exatamente desse ponto pra cima a trilha muda drasticamente, o Jura simplesmente dispara vendo que dali pra frente mesmo sem conhecer não tinha erro e agora eram escalaminhadas fortes por rochas cheias de limo mas com algumas boas raízes pra se agarrar ..... e tome piramba acima, uma atrás da outra, embora esses trechos exijam mais, eu sempre prefiro pois a ascenção é rápida, mas nem tão rápida assim , na verdade quando parecia não ter mais  fim e  depois de umas 2 horas tocando pra cima  saímos no aberto onde fica bem agradável pois se percorre uma crista e vc já pode ter a primeira visão daonde quer e vai chegar, mas que ainda está bem longinho..rsrsrs

Percorrendo essa crista  curtimos bastante o visual , tiramos fotos e começamos a passar por todo pessoal do CPM que fazia de ataque essa trilha e voltavam suados, ofegantes e enlameados, cumprimento daqui e dali, alguns nos avisam que lugar pra acampar não tem mais pois um certo indivíduo havia montado uma “tenda de circo” tão grande que alguns que tinha ido pra acampar haviam desistido pela falta de espaço, rsrsrsr, presumimos que o indivíduo era o Fred que não importa a montanha sempre leva uma casa na cargueira ....

A Crista realmente apresentava trechos de muita lama e era impossível evitar alguns escorregões, após um sobe e desce chegamos no ultimo ponto de água que segundo Elcio ficava a 20 minutos do cume, ali  enchemos as garrafas, fazemos um gostoso suco com quela água fresquinha e embora cansados nos animamos , afinal aquela trilha sem fim parecia chegar ao seu final. . Após esse ponto de água avistamos o que seria o cume, na verdade 2 pedras onde se podia distinguir numa delas a figura comprida do Jura rsrsrs, num certo ponto a trilha se bifurca ....mais um desce e sobe enlameado pra depois investir na subida final , sobe , sobe e  a visão é absurdamente fantástica nesse ante-cume, mares de nuvens, raios de sol refletindo no horizonte , fazem a gente parar pra tirar algumas fotos e filmar essa subidinha final, e após circundar uma gigantesca rocha finalmente as 18 :30 chegamos no mocó do acampamento onde fica a pedra do cume, e onde também pudemos verificar uma pequena barraca ao lado de uma gigantesca , a tenda de circo do Fred ! Ainda achamos um espaço ao lado de uma greta enorme pra montar a barraca.

Escutamos a conversa animada da Juliana Hoy, Cintia, Fred e Jura no cume acima na pedra mas estávamos tão cansados e com fome que montamos a barraca pois já estava escuro e nós mortos de cansaço e fome. Deixamos pra subir a pedra depois do rango , mais tarde quando fosse a chuva de meteoros marcada pra essa madrugada....
Não estava tão frio, portanto resolvemos cozinhar do lado de fora, macarrão parafuso , calabresa e queijo ralado com suco claro.
Foi uma alegria conhecer as meninas valentes , já bem conhecidas pela galera montanhista do Paraná, a Juliana Hoy e Cintia Eliane, já havíamos cruzado com elas e o Junior no Ciririca , mas desta vez estávamos na mesma montanha, acampando e dividindo a experiência, foi especial!
Após a janta cada um se enfiou em sua barraca e Jura bivacou no cume, ô bicho corajoso, nem se enrolou na lona amarela, simplesmente no saco de dormir, o legítimo rocambole de onça azul!
Fomos deitar e descansar um pouco pra cerca de uma da manhã acordarmos, e sairmos da barraca com cuidado pra não cair na greta decidimos que já dava pra ir dar uma espiada no céu , lá na pedra, subimos e nos ajeitamos meio desanimados pelo céu estar encoberto, porém em alguns minutos a nuvem se dissipou e pudemos ver a lua , as estrelas, um belo firmamento e as luzes de Paranaguá beirando o mar....foi lindo! Porém não demorou muito aquela visão sumiu e estávamos novamente dentro de uma núvem. Decidimos dormir , descansar pois a volta nos aguardava no dia seguinte.

O dia amanheceu branco, fechado, uma núvem só...mesmo assim após um café quentinho e alguma prosa com os vizinhos das barracas ao lado subimos todos pro cume na esperança de alguma abertura pra bater fotos...




Foram poucas as chances, mas em qualquer aberturinha era aquela gritaria e corre pra cá e lá pra sair uma foto com alguma visão kkkkkkk não sei como numa dessas quase não nos atiramos nos precipícios...mas foi muito bom!

Descemos , assinamos caderno, acampamento desmontado e cargueira nas costas , botamos pé  na trilha não sei bem que horas....a turminha mais rápida foi na frente e eu  no nosso ritmo,sem muita pressa já que descida pra mim até o músculo aquecer é sofrido...ainda nos encontramos na bica perto do cume onde todos aproveitamos pra lanchar, um lanche comunitário , conversar e onde também passaram por nós em direção ao cume 2 rapazes que faziam de ataque. Pelo fato da primeira parte ser pirambenta  e eu descer devagar  , com todo cuidado,  quando cheguei na parte de descida em terreno mais firme aí sim dei aquela acelerada ...já la embaixo, tem uma  errada (trilha)logo vi por onde por onde seguia a trilha correta, mas comecei a escutar vozes e avistei  dois rapazes que mais cedo estavam chegando no cume , eles haviam encontrado o cume fechado e voltado rapidamente porém em algum ponto, talvez pela rapidez,  saíram da trilha, por sorte escutaram nossas vozes e e  mostrei pra eles a continuação ao que respiraram aliviados, vendo que não estavam perdidos afinal... e assim daquele ponto mais 20 minutos saímos no riacho início da trilha, onde com muito gosto tirei minhas botinas e enfiei os pés naquela agua geladinha .....ahhhhhh muito bom!

Os finalmentes:
A trilha é linda, aberta, bem demarcada embora com algumas bifurcações.
É pesada pra ser feita de cargueira porém pra ser feita de ataque é muito extensa, há que se pensar qual melhor alternativa, no meu caso prefiro sofrer com a cargueira mas chegar sem pressa de voltar, pois é muito esforço pra ficar 5 minutos no cume e voltar..minha opinião!
Vale a pena pois a montanha é linda, tem seus perigos, não se pode chamar de trilha fácil, na verdade é difícil pela exaustão , alguns trechos confusos ,    encontramos 2 jararacas no caminho, mosquitos assassinos e uma pata de onça foi fotografada  por uma pessoa não lembro bem quem foi rsrsrsrs
Como toda montanha deve ser respeitada e não é mesmo um passeio no parque..cansa pouco menos que  um PP ou Ciririca eu diria...vão e tirem suas conclusões!