quinta-feira, 21 de abril de 2011

CAMBIRELA - Montanha à beira mar




Cambirela visto da BR
O Cambirela ou “ montanha próxima do mar” que é o significado do seu nome, estava nos meus planos desde o tempo em que fazia a Pedra Branca , um morro ali perto com metade da  altura e muito apreciado por escaladores e excursionistas locais. Juntamente com Pico do Tabuleiro e a Pedra Branca forma os 3 grandes da região .

Já tinha ouvido vários relatos de gente que se perdeu, se machucou, foi resgatada do cume , outros tantos que juraram nunca mais voltar..e outros que relatavam o incrível visual conquistado após a jornada de 4 a 6 horas de subida, dependendo da trilha...essa montanha sempre meteu tanto medo quanto vontade de enfrenta-la.

Situada no município de Palhoça na grande Florianópolis,  com 1.070 mt de altitude , sua base está a nível do mar ..o que significa que em tamanho  é  similar a um PP da Serra do Ibitiraquire. É uma montanha composta por granito e basalto, comumente encontrados em regiões fronteiriças entre a Serra do Mar e a Serra Geral com formações geológicas diferenciadas, de vegetação remanescente da Mata Atlântica até cerca de 800 m de altitude - após, encontra-se basicamente gramíneas e pouca vegetação de altitude. Fica às margens da BR 101 e impressiona pelo formato piramidal onde se avista um cume bastante estreito, aliás um não, o Cambirela tem dois cumes falsos antes do verdadeiro cume.

As três trilhas são bem conhecidas , duas pela face norte e uma pela face leste da montanha mais alta do Parque Estadual Pico do Tabuleiro. Também são diferenciadas pelo nível de dificuldade.  As 2 trilhas do norte são : a das cordas , considerada a mais difícil ,e a trilha que passa no fundo de um vale e bastante escorregadia e enlameada,  considerada a mais fácil. A da face leste é considerada difícil porém  por não exigir escalada tão exposta e vertical quanto a da face norte é considerada um pouco melhor(nível médio) .
Na primeira vez que resolvi fazer o bate- volta no Cambirela fui sem conhecer nada.
Davi no ataque final

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Diana ,na subida rumo ao cume
Acabamos achando a da face leste, que entra pela BR  e logo se bota pé na trilha propriamente dita que leva ao cume da montanha. Levamos cerca de 3 horas pra subir e 2 pra descer , é preciso fôlego pois a trilha é bem cansativa mas bem estimulante com todas as variáveis possíveis pra diversão de um montanhista animado: escalaminhadas verticais, cachoeiras , rochas , raízes e na investida final é bom ter “unha” pra se agarrar num trecho bem pedregoso e com pouco lugar pra se segurar onde se olhar pra baixo é vertigem na certa, como sempre na hora do aperto e medo de altura eu jurei  que não me arriscaria  mais assim, mas.................


Eu, admirando o contorno do litoral

Meses depois lá estava eu de novo, pra mais um bate volta –treino no majestoso Cambirela , queríamos  conhecer a trilha mais difícil e temida : a das cordas he he he...
Realmente é a mais difícil! Muito semelhante a da face leste no início porém lá pelo meio da montanha , tendo já vencido 600 mts de altura, se encontra uma  série de lances em rocha exposta, onde o aclive vai aumentando,  sendo necessário usar a  aderencia da rocha e alguns apoios com as mãos  pois é o  primeiro lance realmente difícil e  sem corda  ,   se olhar  pra trás  enxerga a BR e os carros passando do tamanho de um grão de feijão...arghhhhhhhhh, pensei que não conseguiria mas vendo minha dificuldade o meu parceiro me ofereceu a alça da mochila dele pra me dar um conforto psicológico na ultima investida pra sair daquele perrengue nas alturas...mas o pior mesmo vem depois uma rocha totalmente  vertical de cerca de 8 mts onde o  único que se tem é uma corda (meio gasta) pra escalar e algumas agarras naturais de apoio , embora contrariada e meio com vontade de dar meia volta , acabei me acalmando e venci os 8 mts segurando a corda  de uma vez só.
E de-lhe subida mais íngreme mas sem tanto risco, cume falso, outro cume falso e finalmente o cume verdadeiro...ahhhhhh que alívio. A vista de Floripa é fantástica, se ve o contorno da ilha e do continente perfeitamente e ao norte o que seria o próximo objetivo : O Pico do Tabuleiro, que serra magnífica, que silhueta...imperdível e vale muito mesmo um perrenguezinho básico pra chegar alí.
Cume falso Cambirela

Eu , já na descida




A descida foi pela conhecida face leste, a outra de nível difícil mas que pra mim pareceu fácil depois das cordas rsrsrs

Me resta conhecer a tal trilha fácil, ainda não retornei lá, mas já tenho saudades do meu gigante à beira mar, o grande Cambirela, montanha de respeito e muito querida aqui do ladinho de casa... a 15 minutos da ilha da magia...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Monte Crista : Perrengue no Caminho do Peabirú

Minha Ida ao lendário Monte Crista :

Fui pessoalmente conferir todo o mistério e magia da trilha do Monte Crista . Já tinha lido que a trilha era parte do Caminho do Peabirú  e provável cenário de acontecimentos históricos que remontam ao passado do império Inca em suas incursões por estas bandas rumo ao Atlântico

Sai de Floripa rumo a cidade de Joinville a 190 Km de Florianópolis, onde encontrei a Juliana Michelon e o Gera , também dispostos a conhecer esse trecho do caminho do Peabirú.

  A trilha inicia por uma ponte pencil e logo adiante atravessa um rio  com leito de pedras relativamente largo mas que se atravessa facilmente se estiver num dia seco, no dia seguinte esse mesmo rio se tornaria quase intransponível pra nós devido as fortes chuvas que o tornaram num rio caudaloso cheio de correntezas.

 A trilha é de vegetação exuberante e gigantesca, me senti num ambiente pré histórico ,   cenário de filmes  de dinossauros. Não tenho conhecimentos de botânica para descrever cientificamente o que  meus olhos viram, mas era  algo diferenciado essa trilha, quase mágica. Belezas a parte,  a trilha é bem demarcada pelo caminho de pedra que percorre  quase toda sua extensão .Em alguns trechos é preciso atenção pois houveram desbarrancamentos  que tornam a trilha confusa.  O cenário é realmente mágico, as imensas escadarias de pedra indicam praticamente todo o trajeto de subida ao Monte Crista. A  exuberante mata Atlântica parece ser testemunha silenciosa de um passado fantástico da passagem Inca em território brasileiro. Impossível não se perguntar o porque do  povo Inca ter interesse em alcançar o Atlantico.

 A trilha exige um certo preparo físico e a subida na parte final foi extenuante pra nós  que levavamos cargueiras pesadas ,   mas vale muito a pena conquistar o cume , no nosso caso chegamos  quase noite, muita neblina e resolvemos acampar ao lado da Pedra do Guradião, quase num precipício . Mal deu tempo de montar as barracas e escureceu . A chuva fina , neblina e frio  nos obrigou a nos entocarmos dentro da barraca em busca de abrigo.  Tudo arrumado providenciamos nosso jantar quente , o meu tradicional macarrão com calabreza e queijo ralado acompanhado de um  suco fez sucesso mas não menos que a polenta com queijo da barraco ao lado hummmmm.... após um pouco de conversa adormecemos cansados.

 A noite foi de chuva, vento e muito frio, diz a Juliana que antes de amanhecer ela conseguiu ver uma janela de céu limpo mas logo uma núvem nos encobriu novamente e pela manhã a visibilidade era zero. Mesmo naquela situação tiramos foto do Guardião de Pedra  animadamente e riamos dos vestigios, pegadas de algum animal que atacou o resto de polenta da Juliana e ainda fez suas necessidades ali perto da barraca. Naquele frio de rachar , após  tomarmos nosso café da manhã decidimos começar a desmontar as barracas sem demora já que calculamos que o rio no final da trilha deveria estar cheio e com correnteza, talvez intransponível,  mas aí só descendo pra saber....Foto da saída , pé na trilha!  A descida foi bem cansativa pois era pura lama montanha abaixo nos trechos em  que não eram de pedra,  o que nos rendeu inúmeros tombos, risadas e perrengues....e após 6 ou 7 horas  de trilha , com algumas erradas por distração na volta, chegamos ao rio que estava pior do que imaginaramos, 

Tinhamos pelo menos 15 metros de largura a transpor num rio cheio e com correnteza forte onde  um passo já era difícil o que dirá 15 naquela situação. A chance de alguém se desequilibrar e ser arrastado em meio aquelas  pedras e correnteza era imensa. Após debate e análise sobre a melhor estratégia resolvemos tentar atravessar por um trecho próximo a uma barreira  de pedras que nos dariam certo apoio e teoricamente amorteceria  a força da  correnteza .... passo a passo conseguimos vencer o rio. Do outro lado da margem  experimentamos uma euforia pela façanha e tendo passado o sufoco enfim estavamos próximos da linha de chegada. E assim foi , logo a frente atravessamos a ponte pencil e chegavamos ao barzinho do simpático senhor que parecia ter saído de um conto  de Natal, era o próprio papai noel encarnado, o bom velhinho nos vendeu umas cervejas e batata frita enquanto  um a um iamos  tomando banho quente e tirando as roupas molhadas e enlameadas. Missão cumprida! Valeu muito  a sensação de estar num lugar histórico cercado de monumentos e vestígios de uma época tão remota de conquistas e busca de sonhos. Fiquei com vontade de fazer a travessia Garuva Monte Crista, mas fica pra próxima!

. Tempo de duração da trilha : 5 a 7 horas do inicio da trilha (ponte pencil) até o cume (dependendo preparo físico)
Nível Dificuldade: Médio


 Informações adicionais sobre o Caminho do Peabirú   :

É  quase desconhecido para a maioria porém de importância histórica indiscutível . Entre outras atribuições é certo que foi cenário de acontecimentos importantes do passado que remontam a época do império Inca.
Uma extremidade do  caminho inicia na costa do atlântico , no Brasil, mais precisamente Santa Catarina (com ramificações que ligam o caminho a várias comunidades indígenas e atravessa o território brasileiro chegando até a Amazonia ) atravessa território brasileiro, Bolivia e Peru, chegando aos Andes , como pode ser visto no mapa ao lado.

Pesquisando na net encontrei curiosas informações sobre esse caminho :
A designação Caminho do Peabiru foi empregada pela primeira vez pelo jesuíta Pedro Lozano em sua obra "História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán", no início do século XVIII.

Constituía-se uma via que ligava os Andes ao Oceano Atlântico, mais precisamente Cusco, no Peru, ao litoral na altura da Capitania de São Vicente (atual estado de São Paulo), estendendo-se por cerca de três mil quilômetros, atravessando os territórios dos atuais Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil.
Em 1524, o náufrago português Aleixo Garcia, numa expedição integrada por dois mil indígenas carijós, partindo da Ilha de Santa Catarina ("Meiembipe"), percorreu essa via para saquear ouro, prata e estanho, tendo atingido o território do Peru, no Império Inca, nove anos antes da invasão espanhola dos Andes em 1533.
Outros relatos dão conta de que Martim Afonso de Sousa, fundador da Vila de São Vicente, só se fixou naquele trecho do litoral porque, de antemão, dispunha de informações de que, dali se teria acesso ao caminho que o levaria às minas do Potosí, na Bolívia, e aos tesouros dos incas.
Segundo a tradição desse povo, o caminho não foi aberto por eles, que atribuem a sua construção ao ancestral civilizador Sumé, que teria criado a rota no sentido leste-oeste.
Alguns afirmam que se tratava de São Tomé o que foi mencionada por índios, padres, autoridades e colonos europeus no século 16. A versão corrente é que um homem branco, barbudo, teria chegado ao litoral brasileiro “andando sobre as águas”. Os indígenas brasileiros o chamavam de Sumé.
Em sua peregrinação, teria ido ao Paraguai, abrindo o Caminho. Ali foi visto e chamado de Pay Sumé. Saindo do Paraguai, a misteriosa figura teria continuado até os Andes. Os pré incas o chamaram de Kuniraya. Mais tarde, o personagem recebeu dos Incas o nome de Viracocha. Após um período no Peru, ele teria ido embora, também “andando sobre as águas”..

Pesquisas iniciadas no século XIX pelo Barão de Capanema levaram à formulação da hipótese de que este caminho ter sido criado pelos incas numa tentativa de trazer a sua cultura até os povos da costa do Ocean Atlântico, abrindo o caminho no sentido oeste-leste, portanto. Como apoio a essa linha refere-se o testemunho de mais de um cronista de que os incas chamavam seu território de Biru. Desse modo, a denominação do caminho poderia resultar do híbrido pe-biru, que equivaleria a "caminho para o Biru".
Recomendo aos amantes de arqueologia, história e principalmente da mitologia de povos antepassados a leitura de livros de Zecharia Sitchin, em especial a série " Crônicas da Terra " onde ele conta  através de seus estudos  a verdadeira história da humanidade registrada em escritos sumerianos  e várias mitologias . Mas só para os curiosos e mais atentos...